O blog! Um escape, um refúgio do
passado e um esquecimento mais recente.
Não posso prometer a regularidade
de outros tempos, porque o espírito mudou muito, mas prometo novidades mais
frequentes.
A minha vida transformou-se,
recentemente, num tsunami. Atingiu-me, deitou-me ao chão e manteve-me lá por
muito tempo com ferimentos muito profundos. O que se passou foi a maior
tristeza da minha vida. Não há preparação possível para a situação em que me
encontrei (e ainda encontro) e neste momento a minha defesa é não refletir
demasiado sobre o assunto sob risco de me voltar a atirar para o chão e lá me
manter.
Mas não posso fazê-lo. Não posso
mesmo. Porque toda esta situação do meu irmão coincidiu com a altura em
descobri que estava grávida. Grávida! Uma gravidez há muito desejada que chega
no momento mais inesperado…
Uma gravidez que odiei porque me
impediu durante semanas a fio de visitar o meu irmão. Contraiu a bactéria da
meningite e por mais médicos que a minha mãe/pai/marido abordassem (a meu
pedido insistente) a resposta era sempre a mesma: a gravidez é muito recente,
os riscos demasiado altos, não autorizo a visita da irmã. Três semanas, TRÊS,
em que me senti roída por dentro. Em que ficava no carro a aguardar enquanto
outros cumpriam o meu direito, a minha obrigação, o meu desejo, a minha
vontade, de tocar no meu irmão, de lhe dizer alguma coisa, de o sentir e de o
fazer sentir-me. Tempos muito difíceis. Tempos em que (e esta é das confissões
mais difíceis de fazer e, provavelmente, por muitos incompreendida) apenas
desejei que me fosse tirada a vida que tenho dentro de mim (pela quase não
sentia absolutamente nada) em troca pela vida do meu irmão (sangue do meu
sangue e que amo desde que nasci). Queria o meu irmão comigo e estava disposta
a tê-lo a qualquer preço. Podia nunca ter filhos desde que não visse os meus
pais a viver este sofrimento e não o vivesse eu própria.
Não consegui fazer a gestão da
alegria que devia sentir, por concretizar o maior desejo de toda a minha vida,
em oposição à tristeza, à amargura, ao sofrimento, da situação do meu irmão.
Chegou o dia da ecografia do
primeiro trimestre e consegui finalmente sorrir. Consegui sentir interesse pelo
que me estava a ser mostrado – mas sempre com o peso da culpa de não ter o
direito de sorrir. Aqui a principal culpada foi a reação do pai que ajudou, e
muito, porque a sua felicidade era contagiante. Mas, ainda assim, não sentia ligação
ou sequer alguma preocupação em especial.
Ouvi, nessa mesma ecografia, que
estava tudo bem, dentro dos parâmetros normais, dentro do que era possível
confirmar na altura. E percebi que tinha chegado o momento de partilhar a
notícia no local de trabalho. A medo, sem motivo para recear, contei e percebi
que o sorriso das pessoas que ficavam a saber era maior que o meu. A alegria
sincera, a lágrima no canto do olho, fez-me encarar mais um pouco a realidade
mas nunca deixando de a evitar.
Finalmente, não sei bem porquê,
acho que não houve acontecimento específico nenhum que pudesse despoletar esta
situação, sinto que entretanto comecei a fazer as pazes entre o que se passou
com o meu irmão e a vida que estou a gerar dentro de mim. Consigo fazer mimos à
barriga na ténue esperança de que o bebé os sinta e até me começo a preocupar
com a altura em que devo dar-lhe a chupeta pela primeira vez. Olho para a
barriga e percebo que tenho aquele que será o maior amor da minha vida
independentemente de toda a merda que possa acontecer a toda a volta. E todos
sabemos que não devemos deixar passar o amor da nossa vida sem a devida
atenção.
O meu irmão faleceu. Sinto que o
que fiz não foi suficiente; tenho a sensação de que fui cega a algum pormenor
que o podia ter salvado. Mas reconforto-me com o facto de saber que parou de
sofrer e foi para um lugar, que acredito ser, melhor. Nunca na minha vida
experienciei uma dor tão profunda, um sofrimento tão desesperante mesmo com o
conforto de saber que foi o melhor que lhe podia ter acontecido. Sei que tenho
que me despedir dele mas é tudo ainda demasiado recente. Sinto um luto que não
compreendia e uma saudade que ainda me surpreende. Restam-me as lembranças, as
gargalhadas e as lágrimas, os abraços e as chatices que vivemos e que não me
cansarei de relembrar.
E vale-me o facto de conseguir
cumprir o que mais me pediu nos últimos anos: um/a sobrinho/a que ao longo da
sua vida vai ouvir falar muito sobre o tio A. (maluco) que não conhecerá pessoalmente
mas do qual saberá muitas histórias.
Esteja onde estiver, o nosso Bibe estará sempre orgulhoso da Irmã que tem, a Irmã que sempre fez, faz e fará tudo o que puder e o que está ao seu alcance em prol do bem estar dos que lhe são queridos, pondo esse objectivo à frente detudo o resto, até mesmo à frente dos próprios objectivos.
ResponderEliminarComo ele disse, numa das suas ultimas conversas, " Tenho mesmo orgulho na minha irmã!".
Nunca será esquecido, e a sua memória permanecerá bem viva dentro de nós e, farei questão, que esteja também presente na do Nosso Filho.
Tudo o que passaste, e ele na primeira pessoa sentiu, fará dele um lutador, com personalidade forte e seguramente uma força da natureza no que concerne a resistir a dificuldades e dar apoio a quem mais precisa.
Sairá à Mãe, e disso muito me orgulharei!
RP
Não tenho muito para responder... :)
EliminarSó agradecer o teu apoio e compreensão neste período tão difícil - foram primordiais.
Espero que também saia à mãe no que respeita a gostos futebolísticos! :P
Beijo... e obrigada!
Quase todos os dias passava por aqui, na esperança de algo diferente, de melhor, positivo.
ResponderEliminarLamento profundamente ter sido este o desfecho, e quando comecei a ler, confesso que ainda tive esperança de boas novas...
Neste momento de dor, tenta encontrar conforto na vida que carregas, e te foi dado o milagre de gerares, ela será a tua luz...
Obrigada pelas palavras. Mantive esperança quase até ao final mas por muito que custe temos de enfrentar que esta é a realidade.
EliminarEste milagre tem agora o privilégio de um anjo da guarda muito especial e é nisso que refugio alguma dor.
Lamento imenso. Quando vi a imagem da ecografia no feed e enquanto lia o post torcia por um outro desfecho. Apesar de ser agridoce, a vida que tem agora dentro de si é uma nova força, uma luz (como a 43 e picos diz) para continuar o caminho ... Beijinhos.
ResponderEliminarObrigada Nina. De alguma forma acho que se vai traduzindo no meu refúgio e na minha origem de força. Tão pequenino/a e com tanta responsabilidade... :) Beijinhos e obrigada.
EliminarQue post tão intenso! Lamento a perda (que não é total, porque as memórias ficam) e não imagino a dor que deve ter acarretado. No entanto, parece que a notícia deste rebento a gerar-se veio trazer alegria à família! Muitos parabéns! Com apenas alguns meses de gestação e já a apoiar a mamã.... ;) e como disseste num comentário, o bebé tem um anjo da guarda especial... Adorei, lindo!!!! :)
ResponderEliminarBeijinhos
Obrigada pelas palavras. E obrigada pelo apoio! É verdade... às vezes acho que já lhe estou a pôr demasiada responsabilidade em cima dos ombros... mas neste momento é o que de melhor tenho. Muito obrigada.
EliminarBeijinhos