Nas últimas semanas tenho passado
muito tempo no Centro Hospital de Gaia e Espinho. Quem lá tenho diz-me que todo
o serviço tem sido irrepreensível; desde médicos a auxiliares, enfermeiros –
nada a apontar.
Ontem houve greve dos enfermeiros
neste hospital e quando lá cheguei, à noite, nem reparei num grande cartaz
afixado. Mas no retorno ao carro deparei-me com a seguinte mensagem:
Este hospital escraviza os seus
enfermeiros.
E senti uma espécie de baque. Porque
é um assunto que de facto me preocupa.
Antes de mais que me perdoem os
enfermeiros deste país mas não encaixo a reivindicação das 35 horas de trabalho.
Todos – TODOS MESMO – devem trabalhar 40 horas por semana e não consigo
identificar motivos para esta categoria profissional ter tratamento
diferenciado.
Mas por outro lado, e isso também
considero escravização, discordo completamente dos turnos de 16 e 24 horas non
stop. Estamos a falar de pessoas antes de mais; que lidam diariamente com o bem
mais precioso de qualquer um de nós; e por muito bom que seja um enfermeiro ao
fim de 20 horas a capacidade de trabalho não é nem parecida com a que tinha ao
fim de 5 ou 6 horas. Acho que faz todo o sentido turnos de 8 horas e a
contratação de mais enfermeiros para não sobrecarga dos que já lá estão.
Não percebo porque vemos todos os
dias enfermeiros a tentarem a sua sorte num noutro país quando existe tanta falta
de profissionais cá; porque esta é a causa de andarem a fazer uns turnos atrás
dos outros e preencher lacunas deixadas por outros colegas (ou ex-colegas!).
Quanto a salários não acrescento
grande coisa. É altura de apertar cintos. Comparativamente com os privados
sempre se tratou de uma camada privilegiada que vê agora alguns privilégios a
desaparecem. Não coaduno com injustiças mas também não concordo com aumentos
porque sim. Quem lá está sentirá as suas e acredito que hajam queixas mais que
justificadas.
Aquilo que não me é concebível é
esta crise de princípios que paira neste país. Em que pessoas que lidam com a
saúde se queixam de escravatura. E isso acho inadmissível. Enfermeiros e tantos
outros profissionais merecem ter todas as condições que lhes permitam prestar
um bom serviço. E quanto a cortes acho que têm sido e continuam a ser aplicados
muitos, alguns deles devidamente, mas a saúde não deverá ser tida nem achada
neste contexto.
Olá S! Em relação às horas semanais de trabalho do enfermeiro a questão não é terem de fazer as 40 horas. é terem assinado há muitos anos um contrato de 35h, após isto alguns colegas assinaram contratos de 40 horas a receber mais e agora os que faziam 35 horas passam a fazer as 40h sem isso se reflectir no salário. Por isso tens elementos de uma equipa a trabalhar o mesmo numero de horas e nas mesmas condições e a receber um salário diferente.... tudo o que adveio desta crise é a maior das injustiças e pior ainda aproveitam esse argumento para nos chupar tudinho até ao tutano... todos os funcionários publicos ou que trabalham para o estado são bode expiatório ( quando toda a gente sabe que não é a ia que está a despesa...)....
ResponderEliminarEia! Caramba que isso é que foi. Admito a minha limitação de conhecimentos no que ao assunto diz respeito. E a injustiça que implica critérios diferentes para situações iguais é muito grande. Compreendo todos os teus argumentos e talvez não tenha exposto a questão como pretendia.
EliminarDe qualquer forma, e independentemente de tudo o resto, tens de admitir que funcionários públicos sempre tiverem um tratamento priveligiado e quando caminhamos para uma similaridade só vemos impugnações. E ainda hoje vejo muita injustiça: comportamentos que funcionários públicos tomam que no privado, quando piscasses os olhos, já estavas no olho da rua.
Compreendo que digas que são bode expiatório; estão a levar pela medida grande quando estavam habituados a ser intocáveis.
É um facto de não faz qualquer sentido muitas das decisões tomadas e que quem acaba por se lixar é sempre o mexilhão.
Mas o que pretendia evidenciar neste post é que na saúde a crise não devia ser sentida. Não devia haver esse sem número de horas extras (e este era outro assunto com pano para mangas!), não devia haver a situação que referes (discrepância entre as 35 e as 40 horas), não devia existir este sentimento (de escravidão) por parte de quem opera nesta área.
A saúde é demasiado preciosa para tudo isto!
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