Vou começar pelo fim! Fim de uma vida em que me sentia
incapaz, sem vontade de fazer alguma coisa por mim.
Nunca tive problemas em fazer as coisas que toda a gente faz, nunca vi
o facto de ser obesa como limitativo de aproveitar a vida como toda a gente. Arvorismo
foi o pico da minha coragem… e hoje orgulho-me tanto de o ter feito!
Até ao dia em que tinha de sair de casa para fazer um recado,
ir ao shopping tratar de uma prenda… uma coisa banal portanto, e nessa altura
deitei-me na cama, disse que não queria sair de casa, não queria que ninguém me
visse, que era simplesmente uma abominação e sentia demasiada vergonha do que
as outras pessoas iam ver.
Bati no fundo, vi-me de uma forma que nunca me tinha visto,
senti-me de uma forma que nunca me tinha sentido. Olhei-me ao espelho e vi um
monte de banha que em nada correspondia ao que queria ser.
É verdade que a obesidade implica, pelo menos no meu caso,
dificuldades acrescidas em algumas tarefas básicas como apertar cordões, mas
sempre desvalorizei isso, sempre me senti confortável com o que era.
Ok, claro que gostava de me sentir mais atraente, não viver
um drama cada vez que compro umas calças, mas não me incomodava ser assim, ou
pelo menos não me incomodava o suficiente para querer mudar.
Até esse dia… um dia em que adiei uma tarefa básica, devido
à minha imagem.
O nojo, a repugnância possivelmente (ou para mim,
certamente) sentida pelas pessoas que se cruzariam comigo foi demasiado para
mim e deu-se por fim a mudança.
Começar… começar a fazer alguma por mim, fazer melhores
opções na minha vida e estabelecer novas prioridades.
E acho que este acontecimento fez click em mim e saí de casa
para começar a correr, ultrapassei a vergonha de alguém ver uma gorda a tentar
fazer alguma coisa que os mais magros fazem com facilidade (ou pelo menos eu
acho que sim). Releguei os olhares de desdém por aqueles que não compreendem as
barreiras ultrapassadas para fazer aquilo que faço e lutei, arrisquei.
Hoje sinto-me diferente… quero continuar a fazer isto por
mim. A minha timidez (que muitos associam a arrogância) está a ser aos poucos
reduzida e é impressionante o resultado obtido. A forma simpática como as
funcionárias das lojas respondem a esta mudança no meu comportamento, a
facilidade de comunicação com os colegas, a forma como opino sobre este ou
aquele assunto…
Continuo a ser gorda e serei por muito tempo, talvez para
sempre, mas sinto-me melhor e isso é o mais importante.
Hoje valorizo o facto de apertar os cordões sem ficar
ofegante e baixar-me e levantar-me sem ficar “perra” e com dores nos joelhos e
nas costas.
Hoje sinto-me melhor com aquilo que sou.
Acho sinceramente que nunca é tarde demais para começar… e
eu sinto que comecei!
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