Faz hoje dois meses em que me
enfureci no hospital com o médico por terem transferido o meu irmão para a
enfermaria. Uma pessoa sem qualquer autonomia para pedir ajuda caso precisasse
colocada numa enfermaria ao fundo do corredor… foi demasiado para a luta que
tratava há meses e acabei por, ainda que de forma controlada, dizer algumas
verdades e exteriorizar alguma da revolta que sentia com injustiça da vida.
Faz hoje dois meses em que
coloquei as mãos (enluvadas porque não lhe podia tocar diretamente e mesmo os
beijos que lhe dava eram através de uma máscara) no rosto do meu irmão e lhe
pedi desculpa por não ter feito mais, por de alguma forma, em algum momento,
não ter tomado alguma posição/decisão que o podia ter salvado.
Faz hoje dois meses em que
percebi que não o iria ter por muito mais horas ou dias com sorte. Com uma
vontade tremenda de estar ao lado dele e simultaneamente aflita com bata e
máscara e luvas vim embora com lágrimas no rosto, dor no peito inexplicável e
preocupação permanente.
Faz hoje dois meses que recebi
uma chamada a pedir que me dirigisse ao hospital o mais rápido possível. E aí
percebi que mesmo a minha estimativa mais negativa não me prepararia para uma
morte tão precoce.
E hoje, dois meses depois, dói
mais do que consigo explicar. Continuo a perguntar-me se é mesmo verdade, se
isto não passa de uma brincadeira sem piada alguma mas que brevemente vai
terminar. Sinto demasiado a falta do meu irmão. Sinto um buraco no peito que nunca
pensei ser possível sentir.
As pessoas adoram dizer que há
que caminhar em frente, o que está feito, feito está! Que devo valorizar o que
a vida me deu e dá e que me devo focar apenas na vida que trago dentro de mim.
São tontas… e espero que assim continuem porque é que sinal de que nunca vivenciaram
dor idêntica.
De alguma forma, muitas vezes sem
saber bem como, todos os dias acordo e levanto-me, rio-me com as piadas que
ouço, como, convivo, e tento viver da melhor forma possível. Tento ser o que
todos esperam que seja mesmo sem saber exatamente o que isso é. E acredito que
por vezes acham que me esqueci por um momento da ausência do meu irmão.
São dois meses que parecem dois
dias. Continuo a viver demasiados momentos de um passado muito recente. É uma
ausência muito presente.
São dois meses de muita saudade,
dor e luta constante.
Mas felizmente tive a sorte de,
ainda que por tempo muito limitado, tê-lo na minha vida e por haver boas
memórias para relembrar. E depois destes dois meses é isso que hoje e sempre vou
fazer…
Um beijinho.
ResponderEliminar:)
EliminarSabes que fizeste o possível para o apoiar o teu irmão...
ResponderEliminarEspero que o tempo atenue essa dor!!!
Beijinho
Acho que só o tempo acalmará esta revolta porque a dor e a saudade acho que nunca vai atenuar. Obrigada.
EliminarBeijinho